Diva e a Belinha.

Belinha, mulher com cerca de 35 anos que trabalha num cafézinho simpático aqui no Rossio, diz-me muito. Estatura média, morena, de cabelo ondulado por norma apanhado, traz uns óculos de “estética invisível” quase sempre na ponta do nariz. Veste todos os dias uma camisinha branca impecável, com o colarinho assim meio torto e as mangas arregaçadas para não complicar o trabalho.

Um dia destes de manhã:

Diva: Bom dia.

Belinha: … – Silêncio.

Diva: Queria um café pingado e uma empada por favor. – Já sabem que não resisto a uma empadinha de manhã.

Belinha: … – Aponta para a empada ao mesmo tempo que empurra, ligeiramente, os óculos que lhe estavam a cair.

Diva: Pode ser essa sim, é de galinha?

Belinha: … – Abana com a cabeça mas nem olha para a minha cara.

Diva: Ah ok…  então, visto que é de galinha, pode ser.

E lá vai ela tratar do assunto. Quando regressa, e rápido porque Belinha é de uma eficiência incomparável, coloca o pedido em cima do balcão, assim meio à bruta, e dá de frosques.

Diva: Obrigada, e já agora, queria um copo com água por favor.

Belinha: … – Lá vai ela buscar o copo com água, sem nada dizer, mais uma vez.

Diva: Olhe, tem horas? O meu telemóvel está sem bateria. – Disse, já a tentar arrancar algum som que lhe saísse da goela.

Belinha: … – Nada. Mais uma vez, sem recorrer a uma palavra, aponta para a merda do relógio que está no centro do café.

Diva: Obrigada… – e quase que fiz sangue ao morder o lábio de raiva.

Já vencida, e prestes a sair do estabelecimento muda, resolvi tentar a minha sorte dizendo,

  • Resto de bom dia… sim?

Resposta acompanhada por um olhar sarcástico e perturbador: 

  • … Desculpe, já está atendida?

Fui.

Go Belinha.

Love,

D.

3 Comments Add yours

  1. Era pior se fosse daqueles empregados que atira a piada sem piada do “queria, já não quer?” 😉
    http://inspiracionistas.blogspot.pt/

    1. Claramente Raquel. Esse é o colega, o “piadolas”. Ficará para o próximo texto.

  2. Maria João Faísca says:

    Querida Diva, numa situação semelhante, fiz uma confidência com a minha Belinha: “está tudo bem consigo? Do que sempre gostei aqui foi da sua simpatia, e hoje sinto-a um pouco em baixo – está com uma expressão pesada e nem lhe ouvi a voz!”. PIMBAS! Ficou desarmada. Respondeu-me com um sorriso e uma conversa de 5 minutos. 😉

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