Diva vai ao Hospital de S.José

Queridas

Este fim de semana fui atacada por um bicho do demónio que penetrou as minhas amígdalas e, às portas da minha garganta, cultivou um bróculo feio, doloroso e acima de tudo, persistente.

As amigdalites, como esta, assim como as faringites ou laringites, têm sido o meu karma desde pequena. Por esse motivo, assim que sinto algo dentro de mim a florescer, dirijo-me ao hospital de onde não saio sem o meu chuto de penicilina. Parece masoquismo mas não é, acreditem. Não há nada mais eficaz para acabar com estes bróculos, do que uma injeção de penadur bem dada dentro da linha do biquini.

Por conveniência, dado que fica muito perto da minha casa, fui ao Hospital de S.José de onde, à semelhança do centro de saúde dos Anjos, trago sempre algo para contar. Devo dizer-vos que a sala de espera desta instituição pública de saúde estava uma beleza. Parecia a Caras Angola, mas melhor. Só gente gira, bem vestida e, principalmente, cheia de saúde. Assim que escolhi criteriosamente a cadeira, onde iria dormir durante as próximas 2 horas, ouço uma senhora da terceira idade gritar:

– Anda uma pessoa a pagar os impostes para ter que levar com este pivete?? Alguém que tire esta alma daqui, por favor? – disse, em modo varina, apontando o seu dedo para um senhor que, por sinal , estava sentado a poucos centímetros da minha cama de eleição.

Realmente o cheiro era nauseabundo. Acontece que o pobre é cá da rua e, como às vezes de manhã me diz bom dia, tive pena e pedi à senhora para se acalmar. Mas já era tarde. Todo um motim estava criado para expulsar o cebolinha dali. O coitado nem tinha consulta, só estava lá sentado porque é alérgico ao sol.

O motim fez-se, entre a varina, uma senhora cigana e um casal de idosos que desde que tinha passado a triagem estava contra tudo e todos. O senhor acabou por se ir embora. Quinze minutos depois da sua saída triunfante, foi altura do seu cheiro finalmente abandonar-nos. E tudo porque a senhora do guichet disponibilizou o seu ambientador, natural do WC restrito aos funcionários, que acabou por amenizar o odor e, consequentemente, o sofrimento geral que se vivia naquela masmorra.

Enquanto isto, e como de costume, estava toda a gente na sala a odiar as pessoas que iam sendo chamadas à sua frente, enquanto o bróculo ia tomando conta de mim.

Às tantas, já eu dormia há pelo menos meia horinha no ombro de um velhote, aparece uma manequim histérica em cena. Aparentemente, tinha acabado de se espalhar na passarelle da Moda Lisboa. Chorava imenso com dores no pé e ainda vinha com uma plataforma calçada para não sujar a outra pata… Dizia, berrando, que tinha desperdiçado a oportunidade da sua vida e que agora estava perdida. Foi aqui que me lembrei que há sítios pior frequentados que este Hospital. Nem me lembrava que estávamos nos 3 dias em que as aves raras atracam no Pátio da Galé.

“Diva, ao Otorrino por favor!”- Finalmente o céu se lembrava de mim.

De cabeça erguida, e de óculos de sol postos, entrei finalmente na sala do médico.

Vim de lá com uma receita letal para acabar com este bicho.

Hoje, estou bastante melhor obrigada.

Love,

D.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *