Trabalhar sem ouvir a música dos meus guias sonoros interfere gravemente com a minha dedicação, empenho, flexibilidade ou, por outras palavras, com o sentimento de felicidade possível de atingir enquanto cumpro o meu horário laboral.
Sem os Beirut, Fleet Foxes, Father John Misty, The Cure, Lana, a minha Malú, War on Drugs, Arctic Monkeys, The Strokes e tantos outros, não sou a profissional que ambiciono ser. Na semana passada percebi que um dos meus phones (mais precisamente o esquerdo) não estava a funcionar. Incrível como um ouvido faz tanta falta. De imediato a música perdeu algumas das suas notas, as vozes grande parte das suas vogais, e o meu cérebro, viu ser-lhe roubado aquele processo cognitivo deveras necessário a que chamamos “atenção plena”. Trabalhar enquanto ouço o som das minhas próprias teclas é demasiado deprimente para a minha alma produtiva, logo, faz-me perder o foco.
Com a tranquilidade claramente comprometida, decidi ir à Tiger comprar uns phones. Aproveito este momento para elogiar esta cadeia de lojas dinamarquesa cuja oferta é de tal forma interessante, pela sua criatividade e relevância, que eu e os meus queridos colegas a visitamos cerca de três vezes por semana, não vá alguém precisar desesperadamente de um massajador de cabeça em forma de aranha, uma caixa para guardar ovos cozidos no frigorífico ou de umas pipocas salgadas e doces, vendidas misturadas na mesma embalagem. Convenhamos que é de génio. By the way, o massajador de cabeça funciona melhor quando é manipulado por outra pessoa, a auto-manipulação deste instrumento é deveras desinteressante.
Forreta, mas sem dispensar o indispensável, lá consegui gastar 3€ para regressar ao musical onde gosto de viver. Sem grandes expetativas, já que trazia uns phones de valor inferior a um maço de tabaco, experimentei o meu gadget novo depois da hora do almoço e eis que… continuava a não funcionar. Só um dos phones estava operacional. Sem nunca equacionar outro problema que não fosse da própria ferramenta adquirida, lá fui eu novamente à Tiger, agora em modo Tigre, sempre na companhia dos meus colegas amorosos que não perdem uma oportunidade de lá meter os pés. Quando finalmente cheguei à caixa, com discurso preparado para arrasar com a estratégia comercial escandinava que acabara de se revelar uma fraude na eletrónica e, mais uma vez, com toda a moral de quem gasta 3 míseros euros, aparece-me um empregado amoroso mascarado de elfo. A pergunta que rapidamente se instalou na minha cabeça foi:
“Como reclamar com um elfo?”
Basicamente é igual a mandar o Pai Natal comer merda. Não se faz.
Acontece que o elfo, ternurento, não capaz de solucionar o meu problema sozinho, foi chamar uma figura que desconhecia e que aparentemente cumpre o papel de IT na Tiger. Brasileiro de gema, com um sotaque simpático, pegou no meu artigo e experimentou em dois telemóveis diferentes com sucesso o que me enervou até à morte. Irritada, continuei a insistir com o problema:
– Olhe no meu computador não funcionam portanto não os quero, pronto. – Disse eu focando o meu olhar no IT, tentando sempre não virar a cabeça para o Elfo que estava a assistir e cujo o ar doce me arrancava toda atitude necessária.
– Mas menina, eles funcionam… aqui funcionam, já experimentei nos dois, quer ouvir? -Disse o Mestre do IT.
– 6 Euros mas vêm com microfone – Disse o elfo com cara de quem faz uma proposta decente.
– São meus. – e fim.
Quando finalmente cheguei ao trabalho, toda lampeira, percebo que mais uma vez os phones não funcionavam de um dos lados. Aconselhada por um colega fui às configurações presentes no painel de coise e percebi que existia uma opção que andava a colocar o meu som de um só lado. Não existiam phones capazes de alterar tal bruxedo. Levada pela minha ignorância, fui injusta com a Tiger, afinal sempre é uma loja de sonho. Fui injusta também com o IT e também com um elfo que só nasceu para dar mais alegria à época festiva.
Amanha passo lá outra vez e peço desculpa, estou certa que a Maria precisa de lá ir comprar etiquetas para presentes de Natal.
Love,
D.