Diva regressa ao Ginásio.

Percebi que voltar ao ginásio, depois de meses e meses de ausência, é mais difícil do que parir um bebé de 7kg sem epidural. Tudo começa com o processo de decisão anterior ao regresso, que se agenda com alguma antecedência mental. Sequência bastante mais complexa do que parece, e que se inicia com um momento meditativo em que ponderamos tudo e mais um par de botas. É uma espécie de processo químico que se inaugura com: “E se para a semana fosse ao ginásio?” seguido por um: “Ah mas a Rita queria tanto estar comigo e há quase um ano que não jantamos só as duas” ou “Não era a minha avó que precisava de ajuda para mudar as cortinas das janelas?!” e daí em diante. No fundo, quando decidimos ir ao ginásio, surgem todos os tormentos do nosso passado. O que significa basicamente que, se me dessem a escolher, bebia 2 litros de óleo de fígado de bacalhau para não ter que subir a uma elíptica.

Depois de uma intensa batalha interior, acabei por decidir que no dia seguinte não tinha hipótese, ia mesmo treinar. E lá fui.

Cheguei de cabeça erguida, como quem enfrenta o primeiro dia de escola e,  já no balneário, percebi que tinha uma nódoa gigante mesmo na parte da frente da t-shirt. Já não me bastava estar mais gorda, ainda tinha que regressar suja. Irritada, estive muito perto de me aproveitar desta motivação higiénica para me convencer de que podia ir para casa. Mas não. Continuei forte.

Entrei pelo salão adentro e lá estavam as mesmas pessoas de sempre. O bimbo da crista que grita entre séries, a bixa tatuada que dá tudo no step, e que me aborrece profundamente porque fica lá cerca de uma hora como se fosse o único ser humano que precisa de trabalhar os glúteos, a miúda que até é gira mas que ficou viciada em proteína e agora carrega umas costas maiores que as do Phelps, e os gordos do costume que, coitados, ainda não perceberam que exercício com McDonald´s é só desperdício de energia.

Já sentada na bicicleta, percebo que lá ao fundo está o meu “Fã do Fitness”. Basicamente todas temos um. Faz parte, não sejam falsas. Os fãs do fitness são aqueles que aproveitam o treino para dar uma perninha no engate. São os tais que sorriem para nós, que utilizam sempre as máquinas que se encontram ao nosso lado e que nos fazem olhinhos pelo espelho.

Normalmente são gordos e ressabiados mas o meu até é elegante. Tem pouco mais de 40 anos e está em boa forma. Não sendo o meu estilo, perdão, até posso dizer que tenho um fã de luxo. Assim que me viu, fez aquela cara de surpresa, como quem não me via há anos. Claro que não tive outra hipótese se não soltar um olhar de quem esteve ausente por andar muito ocupada. A comer e a beber, claro. Já a minha expressão corporal, agora com mais 5 kgs, transmitiu um tímido “olá” pouco acentuado para o músculo do adeus não balançar demasiado, enquanto baixei a cabeça envergonhada, e claramente, desiludida comigo mesma.

Enquanto pedalava o mais que conseguia, de olhos focados num qualquer desfile que passava nas televisões da sala, quase a babar de raiva para as cabras das manequins que nos possuem inveja,  e a transpirar como uma verdadeira suína, percebo que, colada a mim, está uma gorda “a dar à perna” 4 níveis acima do meu. Eu estava no nível 3, ela no 6. Foi aqui que rebentou a bolha. Até a obesa estava em melhor forma que eu. Assim que reparei nesta ousadia, saltei imediatamente da bicicleta para a passadeira. Escolhi, armada em sabichona, aquela mesmo ao lado de uma velhota, para ninguém reparar que eu não corro. Ando rápido, com recurso a movimentos de corredor, o que é quase igual. Se a Rosa Mota conhecesse este truque, nunca se teria cansado tanto. Mas até a velha corria mais que eu. Mas como?!

Já em desespero, meti-me na fila para fazer um pouco de step mas lá estava a bixa há mais de 40 minutos, sem vontade de sair, com um rabo que mete inveja à J.Lo e a rir-se na cara das inimigas. Desisti.

Sem margem para fazer algo do princípio ao fim com o mínimo de dignidade, acabei por estender um colchão no chão para alongar por todos os exercícios que não fiz. Depois do estica perna, encolhe perna, mais para a esquerda, mais para a direita, concluí que a sala de treino não tinha lugar para uma Diva como eu e, como tal, resolvi enfiar um fato de banho que tenho desde o 9º ano (que detém algumas transparências próprias da idade) e acabei por seguir rumo à piscina.

Fiz 4 piscinas de costas, para aliviar o reumático, e quando me dei conta já estava a fazer olhinhos ao jacuzzi. Ali sim, ia ser feliz.

Meia horinha depois de permancer mergulhada naquelas fantásticas bolhas aromáticas foi o suficiente para me convencer de que até não fizera mal em ir.

Vá lá…

Love,

D.

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