Diva em confinamento

Uso a palavra confinamento porque já não aguento o termo quarentena para designar este incrível período para o qual estávamos guardados, meus grandes queridos.

Estou em casa há cerca de 18 dias, em modo teletrabalho, o que me tem  servido para me distrair se bem que às vezes me telecanse um pouco. Não estou neste processo sozinha, felizmente fui aceite para o desafio Big Couple, partilhando esta special season com o meu partner que  andava a evitar cortar o cabelo há uns meses e que agora encarnaria na perfeição o náufrago, se este tivesse levado um robe para a ilha.

Como grande parte dos portugueses, temos tentando manter a rotina, sempre com uma banda sonora deveras inspiradora, orquestrada por uns cães vizinhos cuja localização desconhecemos, que ladram o dia inteiro, aparentemente conversando uns com os outros provavelmente sobre o fim do mundo, em diálogos de quintal para quintal com quilómetros de profunda irritabilidade de distância. Nos piores dias rezo baixinho para que alguém os rapte e os leve para um mercado na China. (compreendam que estou deveras desesperada)

No que toca a tarefas domésticas além do mínimo e básico em 18 dias passei uns cortinados a ferro, e apenas porque não queria andar a fazer espetáculos burlescos à janela. Não tenho pintado, meditado, até porque nunca consegui meditar, ou organizado a roupa por cores. Na verdade nem as meias tenho dobrado, vão para um saco desinfetado depois de sairem da máquina à espera que as nossas mãos muito lavadas as salvem para mais um dia aventureiro de pantufas.

Tenho também estado mais ligada e reparado em todas as promessas de Chiara Ferragni  à portuguesa que sigo nas redes sociais, grandes queridas que se vestem e maquilham a preceito para passear os seus traseiros indoor, numa tentativa de dizer ao pessoal que veste legins e t-shirt da Sicasal que a auto estima se mantém com base 3.2 e selfies com boca de pato.  Apesar do meu grande bem-haja a estas divas da aparência social,  o máximo que faço é racionar as bandas de cera fria como se fossem tostões no tempo do Salazar e rezar a todos os santos para chegar a junho sem a águia que até aos 12 anos me atormentou. Também prometi ao meu namorado que iria fazer sempre o buço, nem que seja com fita dupla face. Uma face para os pelos mais longos, outra para os que espreitam das narinas. Sim, é triste admitir.

Por outro lado confesso que, agora que estou em casa e ninguém me chama para ir beber uma tacinha ao final do dia, tenho treinado mais assiduamente. Seguimos vídeos liderados por professores altamente qualificados, do tipo australiano saudável para lá de empático que já nasceu a fazer Jumpin Jacks e a transpirar serotonina. Choramos com os agachamentos que ele nos obriga a fazer, e que me fazem coxear da sala para o quarto, mas pelo menos quando tiver que ir a praia, lá para 2021, vou de cabeça erguida.

Bom, e com tudo isto vamos continuar protegidos em casa, ligeiramente deprimidos, cada vez mais alcoólicos e desequilibrados mas acima de tudo, a cumprir o que é suposto pois somos cidadãos exemplares.

Enquanto não estiver a almoçar no WC e a dormir na cozinha para quebrar a rotina é porque ainda não estou louca. Irei agarrar-me a isso.

Love,

E fiquem em casa, é o mínimo que podemos fazer para apoiar a malta dos hospitais que não nos conhece de lado nenhum e  que dão a vida para nos ajudar. Amorosos, não acham?

D.

 

2 Comments Add yours

  1. Manuela says:

    Adorei…
    Foi preciso o confinamento para podermos ler estes textos tão bem escritos sob a nossa vidinha diária fechados na nossa bela casinha…
    Finalmente a nossa diva volta a escrita

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