Diva vai ao Auchan (sábado de manhã)

Nem sei por onde começar. O tema parece não prometer, eu sei.

Neste singelo sábado, a dias do Natal, é natural que a pessoa tenha que comprar os poucos presentes que já oferece. Dado que o teletrabalho persiste e mesmo de pijama o horário se mantém, ainda paira a sensação de que o fim de semana é sinónimo de liberdade. Mas não.

Ainda que tenha o Chiado perto de casa, o vício das Amoreiras falou mais alto e comecei por ir à Zara, claro, onde troquei um casaco (mais um) que por impulso encomendei online e que me conquistou pela foto da manequim que estava perfeita para ir a uma inauguração de arte contemporânea em Londres. Já eu, com ele vestido, parecia um Lord escocês em noite de gala. Obrigada Vida.

Muito rapidamente terminei a minha missão Nunca mais compras roupa online e fui ao Auchan para umas aquisições típicas de quem não tem nada em casa.

Já se previa uma fila, só não esperava o início do fim. Com cerca de 20 pessoas à minha frente, aproximou-se de mim um senhor para me dizer que esta grande superfície comercial iria fechar dentro de 15 minutos e que havia a possibilidade de não conseguir entrar. Referiu também, com todas as letras, que a probabilidade de ser bem sucedida era muito elevada. De repente, sem saber ler nem escrever, estava na fila do Berghain. Como nem estava assim tão mal vestida segui confiante e resolvi arriscar entre a ideia de ir para casa com azeite, ou com nada.

Já lá dentro, vitoriosa, agora com cerca de 10 minutos de prova, agarrei no carrinho e segui rumo ao objetivo que espontaneamente se tornou numa canja. Na zona do talho, agarrei o primeiro frango que vi, enquanto carnívoros moribundos abriam e fechavam arcas de forma grotesca e à velocidade de quem precisa de levar mantimentos para casa como se estivéssemos em plena pandemia. (ah, espera…).

De frango no papo, lembrei-me que precisava de umas ervas para temperar e, quando alcanço a prateleira, deparo-me com um casal à minha frente, envolvido num pequeno surto de pressa com uma pitada de ansiedade, onde se discutia se era ou não obrigatório que as compras chegassem à caixa até às 13h.

“Despacha-te porque se não conseguires chegar à uma, eles não te atendem…” – dizia a rapariga nervosa ao namorado que precipitadamente agarrou num frasco de manjericão e, conivente, se fez à estrada.

Para mim, manjericão seco é pior do que papel higiénico molhado mas eles é que sabem onde gastam as últimas fichas.

A 5 minutos do encerramento é que percebi que aquilo de alguma forma me começava a afetar. As minhas escolhas passaram a ser as últimas e as possíveis, subitamente comecei a fintar de forma descarada na zona dos legumes para conseguir chegar a tempo de levar os tomates biológicos, agarrei-me a um vinho verde Gatão quando sei perfeitamente que ninguém bebe Gatão…  Em suma, já não era a rapariga equilibrada e cordial de antigamente. Enfiei-me num corredor onde já brotava a fila que, por sorte, calhou ser o das massas e felizmente ainda consegui afiambrar a a sopa de letras, indispensável para uma boa canja.

A pagar, finalmente, com tudo o que precisava menos café (sendo que a minha principal rotura de stock era precisamente de cafeína) a senhora simpática da caixa, ao passar no seu leitor o meu frango, percebe que a embalagem não tinha código de barras. Constrangida, sorriu e olhou para mim com aquela cara de quem sugere que mandemos as chatices para trás das costas, como se eu fosse abandonar algo que escolhi com tanto amor só para libertar o trânsito para a caixa.

“Não vou abdicar do meu frango ” – disse eu, em voz alta.

Esta ave era única proteína à vista, ou me fazia de valente ou comia atum outra vez.

Amorosa, a rapariga cansada, naturalmente derrotada por aquela densa manhã de trabalho, percebeu que eu não estava para brincadeiras. Pegou no telefone e, naquele Kosovo, agilizou com sucesso reforços para a salvação da canja. Obrigada miga.

Esbaforida, cheguei a casa e fiz umas ervilhas com ovos escalfados só para ter a certeza de que ainda me consigo surpreender.

Boas compras Peeps.

Love,

D.

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