Diva agradece depois do Boom Festival

Queridos Boomers,

Aqui fica um memorando, em tom de agradecimento, por todos os ensinamentos adquiridos durante mais uma experiência boombástica, a qual sem vós não teria sido possível.

A todos aqueles que estiveram presentes

Um grande obrigada por terem participado neste festival onde, mais uma vez, tivemos oportunidade de libertar a nossa criança interior em conjunto.

Aos que a perderam lá, sinceros votos de que a encontrem brevemente.

Obrigada ao pessoal da restauração e das lojas de roupa Griffe-freaky

Obrigada por me terem feito gastar uma fortuna em comida sem carne, quinoa com legumes de verão, glitter orgânico ou em óleos essenciais que se colocam nas fontes de maneira a que nos sintamos revitalizados. Estas fórmulas, de origem natural com certificados de pureza garantidos, eram por lá vendidas por uma emergente camada jovem. Porventura com ar de boas famílias, estes queridos aparentemente resolveram dedicar-se à conceção destas matérias que não penalizam o ambiente e que possuem um grau terapêutico avançado, capaz de equilibrar a flora intestinal, principalmente aquando da ingestão simultânea de pudim chia. Acho que é um conceito deveras relevante mas confesso que prefiro Nuxe para manter um brilho 95% botânico e natural. Os restantes 5% ainda estão a ser estudados em Paris. Lá chegaremos.

Obrigada também por colocaram à nossa disposição roupa incrivelmente desenhada, como calças de lycra com padrões que nos permitem prolongar o LSD na tenda, vestidos (giros de morrer, é um facto) que custam mais do que um tailleur da YSL e bolsas feitas com pele de origem animal que vêm corromper com as filosofias propagadas no festival. Toda a gente sabe que as malas de pele duram uma vida e a verdade é que ninguém quer ser visto com acessórios de polipele a passear pelo recinto. Também não gostaria de passar por tamanho vexame.

Obrigada a todo o Staff da restauração por me fazerem acreditar que é possível trabalhar e consumir gotas durante dias a fio. Andamos nós, os comuns dos mortais, a fazer queixinhas dos nossos trabalhos dignos de escritório, em que só nos levantamos para ir à impressora, e nem pensamos no quão duro deve ser servir spaghetti enquanto lutamos com cobras durante uma tempestade de parmesão. Grande bem haja para estes empregados do mês.

Agradecida também estou por termos gasto o orçamento doméstico num bar chamado “Poison” ao qual alguém gentilmente passou os dias a trocar o seu nome por “Tóxico” (que efetivamente faz bastante mais sentido) e ter que comer latas de atum com azia a vodca até outubro. Muitíssimo obrigada.

Obrigada a todos aqueles que não urinaram na La Goa, especialmente na Funky Beach

Seus valentes, capazes de guardarem as necessidades mais básicas de um ser humano em prol de um bem comum. Isto sim, é fazer o país andar para a frente. Bem sabemos que estar na fila do WC, de papel higiénico na mão, sujeitos a penetrar a intimidade de alguém totalmente aleatório, não é fácil. Aliás, a corrida inevitável ao WC é um jogo de sorte. Quem apanhar a casinha mais limpa, ganha, quem tiver o desassossego de partilhar o fosso do mal com o Techno Viking em MD, perde. Claramente que perde.

Obrigada ao pessoal do Hospital do Boom Festival

Tive a infelicidade de acompanhar alguém próximo ao Hospital por padecer de um mal, deveras subestimado, com o fantástico nome clínico: “Assaduras nas Virilhas”. Quando chegámos ao posto improvisado mas com condições capazes, demos de caras com uma equipa para lá de simpática e muito paciente que nos prometeu auxílio rápido.

Ao lado do bebé assado estava um rapaz com as patorras todas ligadas com gaze, com ar de poucos amigos, enquanto recebia um sermão de uma senhora muito amorosa que o aconselhava a fazer pausas durante os períodos de dança, para não acabar com duas múmias até aos tornozelos. Razoável, pareceu-me, apesar do pequeno não se ter manifestado muito recetivo.

Além deste simpático companheiro de triagem, também nos chegou uma maca com uma menina deitada, trazida por dois auxiliares, entre os quais um deles dizia alto: “Ela estava a fazer uma performance na pista e aleijou-se no pé!”. Pobre Pina Bausch, pensei… Mas não foi grave, percebi isso. Brevemente estará por aí a atuar novamente nesses grandes palcos da Marateca.

Obrigada também aos Arquitetos de formação Psicadélica

O Boom Festival é fruto de uma produção absolutamente genial. E não, não estou a exagerar. As tendas que albergam as pistas de dança são projetos altamente elaborados que contemplam uma estética entre o psicadelismo e o exorcismo de almas, onde as formas geométricas se coadunam com elementos abstratos, dignos de obras visionárias que emanam beleza e espiritualidade. No fundo, é como se pedissem a Alex Grey, um dos mestres desta arte, para pensar numa EurofreakyDisney para adultos.

Esta edição decidiram vestir o Dance Temple, o templo sagrado do trance e onde são assíduos os mais aficionados, com o pantone do ano: o Ultra Violet. E que escolha! Numa terra que parece não ser de ninguém, onde o Sol descansa em lençóis magenta e repousa a cabeça sobre azul, nada melhor que o violeta para atar tudo numa só fotografia. Uma ilusão que a Natureza ali ainda mantém viva, e que se transforma numa memória de um paraíso que ainda existe. Mas que é raro.

Eu sou mais influenciada pela paisagem do que pela matança de calorias e neurónios na pista durante oito horas seguidas. Gosto de dançar, naturalmente, mas preciso de umas pausas dignas de alguém que quer manter a cabeça fria. O trance é enérgico e libertador mas também consegue ser uma velha chata daquelas que grita pelos netos da varanda de casa. E que não se cala com cusquices o dia todo, não nos deixa dormir de manhã e se levanta cedo para ralhar com o cão. Maldita!

Obrigada à população beta e famosa que por lá apareceu

Num dos dias em que acordei na Boomland, depois de ter aberto a porta da minha fantástica tenda, a primeira cara que vi foi a elegantíssima Luísa Beirão. Ali estava Luisinha, sentada numa espécie de arca, com toda a classe própria de uma manequim de renome, que um dia também pertenceu a uma banda deveras carismática. Fiquei mais descansada visto ter percebido que, mesmo sem saber, havia escolhido a zona Vip do camping. E é sempre bom acordar com tanta classe. Por outro lado, não tão positivo pois a Luísa é de facto uma mulher repleta de charme,  na zona da restauração ouviu-se uma hora uma senhora chamar pela sua cria da seguinte forma: “Salvador, Salvador, venha cá!” – Dizia a progenitora ao Salva, como quem sai do rodízio de marisco da praia do Vale do Lobo envolvida numa canga Chanel beachware line. Aqui fica um abraço à pobre cria que, de repente, se deve ter visto no meio de criançada que já anda descalça desde que nasceu e que sabe perfeitamente distinguir relva de erva da boa. Está claro que o Boom Festival se tornou mais eclético, o que não é necessariamente mau, vá.

Obrigada à dupla que montou a nossa tenda

Ao contrário da maioria da população, resolvemos acampar num T2, como verdadeiros experts do camping que não somos. Acontece que, quando chegámos à Boomland pelas duas da manhã, uma fila de seis horas e uma grade de minis depois, exaustos e pouco ágeis, concluímos que o desafio imposto era bastante maior do que as nossas competências. Como se isso não bastasse, percebemos também que este T2 não tinha os alicerces em dia. Faltavam-lhe estacas, varas e afins, coisas que os “normais” dizem ser indispensáveis.

Como somos pessoas que carregam um bom Karma, fomos recebidos por três amigos já instalados e que, sem pedir nada em troca, apenas por serem pessoas amáveis e bondosas, decidiram ajudar-nos nesta missão de montar a nossa casa temporária.

Nesta performance de implementação de arquitetura de risco, ressalvo a dupla Andrés & Limitada, constituída naturalmente por dois Andrés, um mais alto, discreto e de voz calma e um outro mais excêntrico, que vestia uma camisa aberta, ao estilo oriundo de Varadero com laivos de barman de Cocktails and Dreams. Para meu espanto, ambos se revelaram mestres da arte de bem acampar e apareceram como dois xamãs no nosso caminho, naquele momento bastante obscuro. Pós-graduados em Gestão de Projeto para Camping in situ, e fora de situ, com um perfil de liderança extraoridinário, delegaram neste casal desorientado, tarefas que fizemos por concretizar em excelência. Ensinaram-me a montar varas partidas, enquanto os próprios in loco uniam brilhantemente elásticos lassos com nós improvisados. Quando julgava que nunca iria viver neste Tcheio de complicações, nasce das terras mais áridas um airoso palácio, ideal para umas férias a dois. Um milagre que quase me fez chorar. Aqui fica o meu Muito Obrigada Andrés 🙂

E para terminar, como não podia deixar de ser, obrigada às pessoas com quem estive quase sempre e com quem passei grandes momentos, vocês sabem que são <3

PS: Usei esta foto porque foi das poucas que tirei ao espaço. Se este casal simpático quiser direitos de utilização por favor apite. <3 By the way, nice glasses!

 

Love,

 

D.

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