Divas sambam na Penha de França.

Na semana passada tive uma experiência única, que só me podia ter sido proporcionada por um ambiente luxuoso, glamouroso e, acima de tudo, bem frequentado. Nunca me tinha apercebido que, mesmo perto de casa e além dos bares da moda do Intendente, que expulsam as pessoas sem piedade às 2h, existe um pequeno Oásis. O spot mais in do Bairro das Colónias, na Penha de França. Não vos sei dizer o nome do espaço mas podem imaginar algo entre um Irish Pub e um bar de alterne. Spé charmoso, portanto.

Estava eu num grupo de quatro Divas entusiasmadas, quando nos apeteceu ir beber um copo, depois do habitual jantar no Chinês Clandestino. Era um dia de semana e a intenção não era ir muito longe. Fomos rumo ao Intendente mas, para variar, tudo fechado. Fomos em direção à Penha, porque alguém se lembrou do BUS, aquela associação toda cultural, cool e bláblá, cheia de atividades, ou não. Igualmente fechada.

Já desesperados, e perdidos entre as ruas coloniais, fomos surpreendidos por um bar de porta fechada meio duvidoso. Foi aí que pensámos: Vamos descobrir quem anda ao ataque aqui? E entrámos.

Qual foi o nosso espanto quando um simpático senhor nos abriu a porta e nos deu a entrada para um maravilhoso mundo de alegria, provocado pela energia de um cantor brasileno que, pouco depois, descobrimos que se apelidava de Morenão. É verdade. Com um nome destes era justo, pelo menos, ter sido convidado para ir ao Domingão do Faustão.

Morenão, rapaz moreno de olhos grandes, na casa dos 30/ 35, vestia umas calças de ganga à boca de sino, trazia um colar preso ao pescoço com algo que se assemelhava a uma concha e, como todos os nativos do seu país, tinha o samba nos pés. Ele cantava, dançava e tocava, fazia tudo ao mesmo tempo. Assim que entrámos, vimo-lo cheio de onda a atuar para o seu débil público: Um senhor com cara de quem vai para a porta da escola primária com os bolsos cheios de gomas. Pobre talentoso…

Rapidamente fomos contagiadas pela energia deste mega entertainer e, subitamente, entrámos na pele do público que qualquer cantor ambiciona. Afinadas e dançantes, batíamos as merecidas palmas, música após música. Só não fizemos a onda porque a quatro não tem graça. Menos.

O Morenão transpirava êxtase devido às suas novas groupies. Conseguíamos perceber pela sua cara que se sentia no palco principal do Rock in Rio – Las Vegas. E, por isso mesmo continuámos, sem pesar, a adorar tudo o que lhe saía da alma. Mesmo quando não chegava às notas mais altas, nós aplaudíamos como se estivéssemos a ouvir o Elvis.

Para terem ideia, estivemos em modo discos pedidos até perto das 3h e, depois de pedir a mítica canção Água de Beber algumas vezes, acabei a gritar pelo Somente o Sol de Débora Blando. Não me perguntem como lá cheguei… O repertório a essa hora já estava fraco. E bimbo, ok, confesso. Larguem-me!

Só sei que terminámos num pequeno workshop de samba perto do “palco” onde estava a nossa estrela e, levadas pela sua luz, por ali ficámos a fazer o melhor que sabíamos. Dizia ele que, sambar, era como andar para trás. Fui até à porta e voltei algumas vezes mas tudo bem, acredito neste mentor. Foi nesse momento, em que estávamos todas no sambódromo rodeadas por plumas imaginárias, que resolvi observar à nossa volta. Percebi que já não estávamos sozinhas. O mundo dos habitantes naturais da Penha invadiram o nosso Oásis. Oh não…!

Morenão, tendo agora mais público para entreter, começou a cantar kizomba com sotaque brasileiro para chegar ao coração dos penhó-franceses. Estava escrito no ar que, finalmente, chegara a nossa hora de partir. Ainda nos tentaram impedir de ir oferecendo-nos imperiais, o que geralmente resulta, mas era o fim. Tivemos que aceitar.

Lembro-me de estarmos a sair do bar e de ver o Morenão com lágrimas nos olhos. As suas musas inspiradoras, mais brasileiras que portuguesas dizia ele, iam dar a fuga.

Foi das melhores noites de sempre.

Pena, foi uma Diva amiga ter adormecido na carpete da minha sala.

Coitada, acordou desorientada e não sabia onde estava.

Já eu, acordei a cantar:

Água de bebeeeeeer, água de beber camaradaaaaa…

Love,

D.

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