Diva vai ao Oslo.

A semana passada tive um encontro entre amigos muito especial. Daqueles em que nos juntamos para falar das coisas da vida sem filtro e, naturalmente, para dissecar todos os males do universo. Sabe bem, faz-nos bem, ficamos sempre mais leves e felizes depois destes momentos.

Juntos, e em trio, jantámos na “Velhinha dos Bifes”. Um restaurante no Bairro Alto bastante modesto mas com batatas fritas verdadeiras e uns bifes que sabem aos da minha avó. Além do mais, a velhinha que lá trabalha tem um cabelo (que fica entre o pantone cajú e o bronze) costuma trazer vestido um género de bata spé trendy que, só por si, já é motivo suficiente para lá ir.

Animados, e já partilhados os desabafos profundos de cada um, fomos beber um copo ao Cais do Sodré. Ou dois. Ou três…

Começámos por ir ao meu querido Roterdão, onde aproveitei para perguntar pela alma generosa que andava a comentar o Divas em Apuros, com o nome do referido bar. Acabei por perceber que era… uma mulher. Só podia, pensei. A simpática gerente foi amorosa e ainda nos ofereceu uma bela tequila gold que acompanhou muito bem com laranja e canela. E bom, é isto que o blog ainda me vai dando de sustento. Podia ser pior. Obrigada.

Depois de umas danças loucas frente ao espelho do Roterdão, em modo coreografia coxa, seguimos rumo a outro ambiente. Ao Oslo. Esse bar tão kitsch que mete qualquer postal da rainha de Inglaterra a um canto.

Assim que entrámos e ouvimos um hit daqueles modernos que passa na Cidade FM, dirigimo-nos à despensa onde está o DJ para por os pontos nos i´s. Pedimos-lhe de imediato uns 80´s para animar a malta. Ele, amoroso, cedeu. Minutos depois já estava a passar a música do Rocky Balboa. Estávamos no bom caminho, pensei.

Umas imperais depois, entra pela porta uma fornada de pessoas. Era grande e composta por jovens que pareciam ter bebido os “shots da casa” de todas as casas do Cais do Sodré. Tinham entre 17 e 19 anos, aquela altura em que o estilo é tudo. Pareciam vindos do 11º A da Secundária da Amadora, prontos para fazer as nossas delícias. Já entre nós, comecei a perceber o potencial do momento. Sentia-me no “Quem é Quem”.

Sem o Bob, mas com:

. O “Afro Cool”

Pequeno afro com um estilo entre o Hip-Hop e os anúncios de Regresso às Aulas do Continente, teve a audácia de trazer uns phones ao pescoço para ficar ainda mais próximo do imaginário que temos deste estereótipo. Tinha uma juba maravilhosa que o meu amigo, já com os copos, resolveu  puxar durante toda a noite apenas para sentir a sua elasticidade. Ele, percebendo que estava alguém a tocar-lhe no cabelo, nada fez. Sempre digno e indiferente. Classe.

. A “Clássica”

Foi ao longe que a vi, no momento em que tinha acabado de beber o shot da casa. (sim, também mereço e não, não tenho 17 anos). Esta querida chamou a minha atenção, mesmo ao longe e a ver mal. Parecia que tinha saído de um anúncio da L´Oreal Professional. De vestido preto pelos joelhos, cabelo em coque imaculado, make up natural, porém trabalhada, a “clássica” dançava sem pudor mas com muita distinção. Via-se que era a responsável pelos casacos da turma e que não bebia qualquer coisa. Glamour aos 18. Gostei.

. A “Shanti”

Existe sempre a passada do ano escolar. Aquela que fuma ganzas no recreio da escola, que lê Paulo Coelho porque é mística. Aquela que usa bindis sem se preocupar com o que os outros vão pensar e que, de vez em quando, leva as calças do pijama para as aulas porque com a camisola do avô passam despercebidas. De saia comprida, que comprou no Festival Músicas do Mundo, girava na pista, tal Fernando Girão com os copos. Simpática, e para lá de charrada, olhava para nós com vontade de se aproximar do mundo adulto. Tive que lhe dar um chega para lá. Não me posso envolver emocionalmente com grupos com quem vou gozar no blog. Perdoa-me “Shanti”.

. A “Inteligente”

Antigamente as “inteligentes” eram aquelas borbulhentas que usavam calças de fato de treino com sapatos de vela. Agora não, meus amigos. As inteligentes contemporâneas usam óculos de geek e vestem bem. Esta pequena, tinha todo um ar pensado. Inteligente lá está. Ainda tivemos o descaramento de lhe perguntar: “Olha fofa, tu és a inteligente do grupo?” Ela respondeu: “Não. Estudo Teatro”. Resposta inteligente, mais uma vez. Suficiente + para ela.

. A “Bitolas”

A louca que vive a vida ao limite e que leva a turma toda para o Europa pela primeira vez, também lá estava. Desvairada, com ar de quem dança de forma eletrizante até com Schubert, deu tudo o que tinha. Ela dançava com o Afro Cool, ela metia conversa com todos e ria-se muito. Quase mais do que a ganzada. Não é tarefa fácil. O que vale é que, com este andamento, aos 24 já está casada e passa os sábados à noite a passar a ferro. Pudera…

. O “Metaleiro” 

Fez-me lembrar aqueles jogos parvos da minha adorada Rua Sésamo em que, perante  um grupo de galinhas e um elefante, tínhamos que adivinhar quem não pertencia ao grupo. Ele era o típico outsider. De cabelo comprido, assim para o ondulado, vestido de preto integral, naturalmente, o “Metaleiro” entrou na festa a medo como quem diz “Ai que isto não é para mim”. Custou-lhe a acreditar que podia estar naquele ambiente.  Através do seu olhar, conseguia perceber que na sua cabeça metálica estava o pensamento que aquele registo não era para pessoas da sua categoria. Quinze minutos depois, estava a cantar Abba. E de letra sabida. Raio do miúdo, enganou-me bem.

. A “Moderna”

Se nos lembrarmos das personagens da nossa escola, certamente que nos vai ocorrer aquela que nunca cedeu a modas, às tatugens pimba, aos piercings no umbigo, aos estilos do momento. Nunca foi beta, nunca foi dread. Teve sempre a sua personalidade e raramente lhe era reconhecido valor, porque todos sabemos que o mundo aos 17 pertence às tribos urbanas. A “Moderna” era sem dúvida a gata do grupo. Cabelo à francesa, pela boca, estilo londrino e cara lavada, esta pequena vai longe. Dançava com aquele ar de quem está num clube em Paris e falava com o resto do grupo como se não a compreendessem. Não resistimos e decidimos dizer-lhe: “Miúda, tu um dia vais vingar”. Ela gostou de ouvir. De nada.

. A Lips Explosion

Alta, aspeto maduro, porém de olhar naif, saltou-me à vista pelos seus lábios grená escuro. Aquela cor tendência que todas as mulas levaram aos Oscars o ano passado. Parece preto mas não é. Fiquei assim para o invejosa porque, sempre que tento usar as beiças mais dark, acabo uma sósia do Batatinha. Quando está bêbado. Mas ela não. Ela retocava o batom na pista, frente ao espelho. E ai de quem lhe dissesse que era falta de educação. A “Lips Explosion” explode com pouco. Nem me meti com ela.

. O “Rookie”

Julgava que estas pessoas já não existiam. Mentira. O “Rookie”, ou como antes lhes chamávamos, o “Matreco”, também pertencia ao 11º A. Cabelo rapado, piercing no septo (que eu confesso que acho uma certa graça, especialmente no masculino) dançava Queen como se estivesse a ouvir Korn. Bebia cerveja à balda e trazia uma cara de mau. A dada altura começou a lançar-me uns olhares cheios de atitude o que me fez pensar que…

Afinal os meus 30 anos não estão assim tão maus. Vá lá.

Love.
D.

One Comment Add yours

  1. roterdaoblog says:

    A tequilla foi oferecida com prazer 🙂 confesso que fiquei a tremer como varas maduras (será da idade) com algum receio dos comentários consequentes. Agradeço a simpatia e a contenção 😉

    E consegui visualizar todos os personagens descritos nesta publicação. E o Fernando Girão que me perdoe, porque é um querido com uma alma muito generosa, mas ri com a descrição da Shanti 🙂

    Abraços e volte sempre!

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